2018 / LETRA PARA MÚSICA / Otu Mundo pa Conteci

sexta-feira, 3 de agosto de 2018
PRÉMIOS: Prémio Árvore da Vida, Indie Lisboa 2019
FESTIVAIS: Semaine de la Critique, Cannes; Indie Lisboa; 



(nisto do) deixar dito


bulindo sob o sol
ess’areia quent’é África praticamente
vão daqui’as aves d’ilha em ilha
mais depressa chegam a Cabo-Verde
do qu’ele acaba este dia
se calhar o céu ouve-nos’igual
a passarada subindo e o Leandro suando na passada arrastando
a geleira, descruzando a areia, somando à canseira
grita porque ganhar’é preciso
sabe no corpo que não dá p’a ter prejuízo
parece que não diz nada de especial mas vai mal
e o puto avança, vende p’a comprar esperança
o q’é q’a gente sabe do outro? em cada rosto’um poço
invisível q’adianta distância
p’a mesma passagem de nível


REFRÃO
abri odjo quem crê odja realmenti  
tudu alguém é tcheu e diferenti
invisivel heroi sem midalha
nu teni ruas pa risolvi
cada dia ta fica otu mundo pa conteci


a vida é a folha onde o rapper escreve
mas no olho há outro texto q’o verso cala
nunca nada é o que parece
nunca nada é o que se fala


siga: noss’é o dever de reclamar por’escrito
rap-rito é tarefa, é promessa em grito
o mundo há qu’o deixar dito hoje p’a qu’um dia aconteça
não há quem não conheça corpos dianteiros da força alada
braços e pernas da juventude desaproveitada
gastos no vaivém calado dos passos, desalento dos
novos escravos pagos a quase nada  


a vida é a folha onde o rapper escreve
mas no olho há outro texto que o verso cala
nunca nada é o que parece
nunca nada é o que se fala


gueto vive da noite, entregue à sorte, encostado à morte
na cara os crimes e os castigos, os dias invertidos vestígios
d’um exército acordando mais um sol d’ir p’a Lisboa de suburbano
o bairro sai todo p’las sombras
a mulher a trabalhar a dias enquant’o homem serve nas’obras
e na escola os putos nascendo p’a fora dali
estuda o sonho de sair de ti
estuda o sonho de sair de ti
estuda o sonho de sair de ti


REFRÃO
abri odjo quem crê odja realmenti  
tudu alguém é tcheu e diferenti
invisivel heroi sem midalha
nu teni ruas pa risolvi
cada dia ta fica otu mundo pa conteci


problema numérico, complô feérico, rap periférico
é argumento sério, dinamite p’o vosso império
voz à medida da gente do mérito intrépido de suar historicamente
infame carne-continente p’a derrame
mira pronta da bófia que abaf’o sangue: s’é da Cova é gangue


ta studa sonho ki ta sai di bo
ta studa sonho ki ta sai di bo
ta studa sonho ki ta sai di bo


a desgarrada fala p’la carruagem da madrugada
armada p’la canção irascível, lesada p’la condição d’invisível
presto p’a destroco, faço de tud’um pouco
neste País onde nem o imposto pag’o direito a ter rosto
entr’a fuga e o desgosto sou eu a ponte
unindo por língua-mãe e mar que nem chega p’a horizonte.

Pequeno vislumbre de um ensaio para gravação de cena ''Invisível Herói''
para filme ''INVISÍVEL HERÓI'' de Cristèle Alves Meira (2018)

Letra minha, musicada pelo Teófilo Chantre 
cantada por Lucília Raimundo & Duarte 

obrigada ao Waldyr Pires pelas revisões no crioulo 
e ao Lee pelo apoio.





Com tecnologia do Blogger.