2023 / ''HANDS OF THE FUTURE'' votado como um dos vídeo-ensaios do ano 2022 pela Sight & Sound - BFI

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

 


HANDS OF THE FUTURE, vídeo-ensaio que co-realizei com Mehdi Jahan (Índia) e Dan Shoval (Israel) é um dos mais votados vídeo-ensaios do ano, no poll internacional da Sight and Sound - BFI - British Film Institute. 

2023 / apresentação do Livro ''QUARTO PERDIDO DO MOTELX'' - na Cinemateca

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

João Monteiro, Sabrina D. Marques, Pedro Florêncio, Leonor Areal
Fotografias: Linha de Sombra, IG 2023

Foi às 18h da quinta-feira 12 de Janeiro de 2023 que a Cinemateca Portuguesa recebeu a segunda apresentação do essencial livro de terror QUARTO PERDIDO, editado pelo Motel X (lançado na Edição de 2022 do Festival). 

Num país de celebrada tradição lírica e poética, que liga umbilicalmente o cinema à adaptação literária, o horror parece ter sido um género de menor treino nas canetas e nos ecrãs. Mas há excepções a resgatar: respondendo à falta de histografia do terror português, nesta edição (menos extensiva e mais compreensiva), cada capítulo esboça uma proposta de subgénero a partir da análise de uma obra ou corpos de trabalho. Foi exemplificando o caso slasher que revi ''Rasganço'' (2001), de Raquel Freire, a ficção original de estreia de uma realizadora que adquiriu uma potência de síntese: como é que há quem ache que a realizadora se afastou do terror ao migrar para o documentário, se continua a ser um terror fazer cinema em Portugal? Piadas à parte, agora a sério: rever ''Rasganço'' hoje foi, essencialmente, resgatar as (evidentes) forças de um filme à estreia engolido e engavetado pelo desencanto crítico. Para lá de uma proposta estética que resistiu ao tempo (memoráveis nocturnos de Acácio de Almeida a jogar com som de Vasco Pimentel e banda sonora de Ornatos), foi com propriedade e conhecimento de causa que Freire atacou a questão por dentro, à hora em que ainda estudava Direito em Coimbra, universidade que antes só se vira retratada pelo fascista e masculinizante ''Capas Negras'' (1947), de Armando de Miranda, filme que em nada comunica com a realidade de um ensino superior crescentemente frequentado por uma maioria feminina. Num presente em que a obra de Freire se tornou mais activista do que estética, mesmo se fiel a ideais recorrentes, medimos - da fantasia ao documental - a amplitude funcional da sua crítica ao status quo que, inabalavelmente, vem defendendo a mulher, as minorias e a cidadania, e preservando princípios sociais de justiça e de igualdade. 

À minha direita, João Monteiro apresentava-se ali como editor mas recordei-o ainda como realizador do incontornável ''Nos Interstícios da Realidade'' (2016), documentário que celebra o cineasta português António de Macedo, a quem tanto deve o cinema de horror e de fantasia. Evocando a identidade de um cineasta tão único que também foi marginalizado entre os pares, ironiza-se o facto de nenhum dos restantes entrevistados pelo filme ter tido, até hoje, honras de tão bonita homenagem. Isto porque a História escorre veloz, as ideias mudam e a arte que não ilustrou uma geração poderá ser resgatada pela seguinte como um espelho. Historiografar o cinema talvez nos ensine como a crítica artística ajusta sempre contas com as necessidades do seu presente. Por conseguinte, construir-se como um artista genuíno será preservar a firmeza de reflectir a sós, sem alinhar ou cair na tendência de seguir modas, escolhendo a expressão identitária como caminho impermeável às vozes da incompreensão. De Barbara Virgínia (foco do texto de Ricardo Vieira Lisboa no livro) a Manoel de Oliveira, de Mozos a Manuela Serra,  quantos cineastas portugueses não foram resgatados pelo futuro? Aprendizagem a resguardar entre os criadores mais jovens, para que os terrores que enfrentam não lhes provoquem um esmorecimento súbito.

Nojo aos Cães, António de Macedo, 1970
(no documentário ''Nos Interstícios da Realidade ou o Cinema de António de Macedo'', João Monteiro, 2016)



Agradecendo o privilégio de integrar um livro entre tais autores, distingo entre os presentes a articulação destes colegas de mesa, os professores Pedro Florêncio e Leonor Areal. E volto a cumprimentar João Monteiro e Filipa Rosário pela necessária empreitada, com um obrigada à Cinemateca por acolher o evento e outro à Livraria Linha de Sombra pelas fotografias (e pelo empréstimo do exemplar que ali tinha à frente).
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